Rede dos Conselhos de Medicina
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Artigos
O desaparecimento de crianças e de adolescentes
Qua, 27 de Setembro de 2017 14:22

 José Fernando Maia Vinagre*
 
Como pediatra, ao longo de mais de três décadas de exercício profissional, fui confrontado em diferentes momentos com relatos sobre o desaparecimento de crianças e de adolescentes. Talvez pelo envolvimento com minhas atividades, não visualizasse um fenômeno causador de tantos danos. Com o passar dos anos, mudei minha percepção. Hoje não tenho dúvidas sobre a existência desse tema como um grave problema social, desestruturador de vidas e de famílias.

No Distrito Federal, a auxiliar de cozinha Fátima Carvalho não consegue mais uma noite de sono tranquila. Em São Paulo, Sandra Moreno se tornou uma ativista, com militância reconhecida nacionalmente. Na mesma cidade, Lucélia viu sua vida se transformar numa busca incessante. Três vidas, três histórias, três mulheres que têm dois pontos em comum: são mães de crianças que desapareceram sem deixar rastros e que até hoje mantêm acesa a chama da esperança de que seus dramas tenham um final feliz.

Num País onde as estatísticas sobre esse assunto não são confiáveis, acredita-se que, por ano, em média 250 mil pessoas desaparecem no Brasil sem deixar rastro. Dessas, em torno de 40 mil têm menos de 19 anos, de acordo com estimativas. Desde 2012, o Conselho Federal de Medicina (CFM), com o apoio de várias outras entidades civis, tem tentado recolocar o tema na agenda pública de debates. Contudo, a percepção é de que ainda há muito a ser feito.

Como parte desse esforço, merece destaque a organização de um abaixo-assinado cobrando a efetivação do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. O modelo atual, que está sob a supervisão do Ministério da Justiça (disponível em: www.desaparecidos.gov.br), tem recebido críticas de quem acompanha o tema, pois é considerado desatualizado e sem resultados efetivos no enfrentamento do problema.

Esse Cadastro Nacional tinha como proposta montar um banco de dados seguro, capaz de auxiliar na difusão de informações e no esclarecimento dos casos de desaparecimento. No entanto, após passar por reformulação, a nova versão, colocada no ar em março de 2013, até agora não conseguiu se consolidar como uma referência no enfrentamento da questão.

A baixa adesão sinaliza a falta de efetividade da ferramenta. De acordo com o site R7, em setembro de 2013, eram contabilizados 305 casos cadastrados, em 17 estados. Passados quase dois anos, a quantidade de inscritos não chegava a 400, em 20 estados. A reportagem acusava uma situação de abandono, corroborada pela ONG Mães da Sé, uma das entidades que referência no País sobre esse assunto.

Se funcionasse conforme o previsto, as coisas poderiam ser diferentes. A vantagem estaria no fluxo qualificado de informações, que pode ser fundamental na solução dos casos. Por exemplo, hoje uma criança desaparece em um estado. Porém, a elaboração do boletim de ocorrência numa delegacia de polícia não é garantia de que o alerta será dado em outras unidades da Federação.

Além disso, se essa mesma criança for encontrada em um determinado estado, a falta de integração não ajudará em nada para que ela chegue até os pais ou as autoridades do local onde a ocorrência inicial foi gerada. Em outras palavras, a ausência de comunicação impedirá a busca e, em algumas situações, que um ponto final seja colocado em histórias embebidas em lágrimas e desespero.

O Ministério da Justiça, por sua vez, enxerga o potencial do Cadastro Nacional, mas admite que ainda não conta com a esperada integração com órgãos de segurança pública. Para tanto, anuncia que tenta levar esse projeto adiante, inclusive como forma de dar sequência à Lei nº 12.648, instituída em 4 de julho de 2012, que “prevê a integração de todos os boletins de ocorrência dos Estados e a divulgação de dados de pessoas desaparecidas no portal da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Sinesp)”.

Enquanto a solução definitiva não vem, a ineficiência continuará a criar o ambiente propício para que o desaparecimento de crianças e de adolescentes prospere no País. Contudo, se faltam políticas públicas e ferramentas eficientes para prevenir e combater esse fenômeno que afeta esse segmento da população, também não se pode ignorar a necessidade de diagnosticar as causas que levam à incidência de novos casos.

Considerados os possíveis diagnósticos de fenômeno de tamanha complexidade, a sociedade, em especial o governo – em todas as suas esferas de atuação –, deve estar atenta a ações que são necessárias para tratar o problema adequadamente. A atualização do Cadastro Nacional, como defendido pelo CFM e seus parceiros institucionais, é apenas umas das atitudes que devem ser adotadas como urgência.

Além dele, devem ser avaliadas medidas como a criação de delegacias especializadas na área da infância e da juventude, o que poderia tornar mais efetiva a busca pelos jovens desaparecidos, conforme tem sido proposto por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo. No entendimento do grupo, que atua na Comissão da Infância e da Juventude da instituição, urge a realização de um trabalho multidisciplinar para tratar do problema.

Pela sugestão, o registro da ocorrência poderia ser feito em qualquer delegacia, mas as investigações seriam conduzidas por equipes especializadas. Essas delegacias deveriam ter condições de atuar com uso de infraestrutura e de tecnologias necessárias às apurações, além de contar com equipes multidisciplinares, com assistentes sociais e psicólogos.

No campo policial, também se faz necessário acabar com o mito de que a ocorrência de um desaparecimento só pode ser feita após 24 horas de sua constatação. Pelo contrário, ao primeiro sinal de suspeita, as autoridades devem ser comunicadas para que as investigações tenham início o quanto antes. Aliás, essa questão reforça a relevância de outra medida: a implementação de uma ampla campanha, de caráter permanente, como foco no esclarecimento da sociedade sobre o problema do desaparecimento de crianças e de adolescentes e nas formas de sua prevenção.

Em um País com tantos problemas sociais, o desaparecimento de crianças e de adolescentes não pode ser visto como um tema acessório ou menor. Trata-se de um fenômeno importante que carece de medidas para seu enfrentamento. No Brasil, esse é mais um desafio que se impõe, exigindo respostas concretas das autoridades e também das famílias, que podem ser agentes efetivos de prevenção, seja pela adoção de normas de segurança, seja pelo estímulo ao diálogo entre pais e filhos, certamente fatos de proteção. Assim, muitos homens, mulheres, crianças e adolescentes serão poupados de horas de angústia e de desespero por desconhecerem o paradeiro de seus entes queridos.

 

* É corregedor do Conselho Federal de Medicina (CFM).

    

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. , acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.

 

 
Pós-graduação e especialidades médicas
Ter, 12 de Setembro de 2017 12:19

 

Leonardo Mariano Reis*

 

Em volta rápida por Goiânia e outras cidades, ou em qualquer acesso à internet, logo nos deparamos com uma grande oferta de cursos de pós-graduação na área da saúde, especificamente na área médica, que tem aumentado a cada dia. Ministrados por diversas instituições, os cursos propõem a formação médica em áreas como cardiologia, pediatria, clínica médica e tantas outras.

É neste ponto que chamamos a atenção da classe médica. Ninguém nega a importância da qualificação, da atualização e da educação continuada dos profissionais. Longe disso. Na área da saúde, talvez mais do que em muitas outras, a educação continuada se faz extremamente necessária e a pós-graduação, quando bem ministrada, contribui muito para tal atualização.

Mas o que é preciso deixar claro a todos os médicos e também à população que busca seus serviços é que a conclusão de curso de pós-graduação não confere ao aluno o título de especialista na área. Ou seja: o certificado emitido por um curso de pós-graduação lato sensu não dá ao médico o direito de registrar-se em um Conselho Regional de Medicina (CRM) como especialista nem em área de atuação de uma especialidade.

Assim, o médico que conclui esses cursos não poderá divulgar que é especialista ou que está habilitado em determinada área de atuação. A divulgação da conclusão de pós-graduações também não deve nem pode ser feita de forma que induza o paciente a acreditar que o médico tem especialidade na área.

Em medicina, a conquista do título de especialista passa pelo cumprimento de requisitos como a conclusão de residência médica credenciada e a aprovação em provas de título. Para efetuar o registro de especialista em um CRM, o médico deve apresentar título reconhecido pela Comissão Mista de Especialidades (CME), formada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).

Mesmo quando reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), os cursos de pós-graduação lato sensu são exclusivamente de qualificação acadêmica e não profissional. Indevidamente, algumas empresas que os oferecem associam pós-graduação à qualificação profissional como especialista, o que representa propaganda enganosa a qual os médicos precisam estar atentos.

A simples conclusão do curso lato sensu também não confere o direito de anunciar em cartões de visita, fachadas de consultórios ou qualquer outro meio uma especialidade reconhecida ou não pelo CFM. De acordo com a Resolução CFM nº 1.974/2011, o médico só pode anunciar a especialidade na qual é registrado no CRM.

A população também precisa estar atenta ao buscar um especialista e verificar se a especialidade anunciada figura no rol definido pela Resolução CFM nº 2.149/2016, que homologa a relação das 54 especialidades e 57 áreas de atuação médicas reconhecidas pela Comissão Mista de Especialidades.

Medicina estética, medicina ortomolecular e outras que possam ser apresentadas como novidades e diferenciais do profissional não fazem parte dessa lista. Uma forma de a população saber se a especialidade é reconhecida e se o médico é habilitado é verificar se há registro no CRM, o que pode ser consultado no site dos Conselhos.

Entendemos ser necessário aumentar o número de vagas em residências médicas de todo o país a fim de ampliar o acesso dos médicos a esses cursos e à formação de especialistas. O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), o CFM e demais CRM têm trabalhado neste sentido e também fiscalizado o cumprimento das resoluções que tratam do registro e da divulgação de especialidades que visam, principalmente, a proteção da população e a garantia do bom e ético exercício da medicina.

 

* É presidente do Cremego.

     

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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As inconsistências da PNAB
Seg, 11 de Setembro de 2017 11:17

 

Carlos Vital Tavares Corrêa Lima

 

A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é reconhecida como pedra angular da saúde pública e requer planejamento racional, com ênfase na qualidade dos serviços prestados e na redução dos desperdícios financeiros, na busca da universalidade e da integralidade do sistema público de saúde.

Trata-se de uma política que exige constante formulação programática, com ampla e efetiva participação de representantes dos diversos segmentos profissionais e das comunidades, em um contexto de diálogos e exposições de experiência exitosas e internacionalmente consolidadas, com as devidas adequações às realidades geográficas, sociais e econômicas do País.

A PNAB, divulgada pelo Ministro da Saúde há poucos dias, não foi construída no âmbito de um processo caracterizado pelo compartilhamento de ideias e contínua discussão. A sua reestruturação, iniciada no ano de 2015, foi feita com equívocos típicos de gestões autocráticas, utilizando-se mais uma vez a consulta pública como forma de se obter uma aparente legitimidade democrática.

A retórica de prioridade à Estratégia de Saúde da Família (ESF) cai por terra quando se observa a instituição de financiamentos específicos para outros modelos de atenção básica, sem agentes comunitários de saúde ou com o seu deslocamento das equipes existentes na ESF, que já não contam com o número suficiente desses colaboradores.

Torna-se claro que, com a simples finalidade de ordem econômica, sem preocupação com a qualidade dos serviços, haverá retração do financiamento da ESF para implantação de outros modelos seletivos e focais.

As especificidades locorregionais são relevantes, mas, deveriam ser atendidas com substancial aumento do Piso da Atenção Básica fixo (PAB fixo), com valor médio nacional e atual em apenas R$ 24,00 per capita ao ano, insignificante perante as necessidades da população.

Ainda devem ser ressaltadas as faltas de valorização e estímulos à qualificação dos recursos humanos, das medidas destinadas a suprir as carências de condições ao trabalho e das diretrizes mínimas a serem observadas nas parcerias intermunicipais, imprescindíveis à competência administrativa da Atenção Básica.

De fato, as inconsistências da PNAB, recentemente anunciada, demonstram que, se existe competência administrativa, os governos a escondem muito bem! Têm procurado com intensa campanha publicitária desviar a atenção do povo das verdadeiras causas do caos que assola a saúde pública.

Neste sentido são elaboradas mensagens por autoridades sanitárias, com frases de efeito que escondem os principais motivos da precariedade na saúde, como em três recentes episódios de injustas acusações aos médicos brasileiros pelo ministro Ricardo Barros: “vamos parar de fingir que pagamos os médicos, e os médicos precisam parar de fingir que trabalham”.

Apesar das nossas relações sociais contemporâneas, que fazem lembrar as históricas narrativas do período de interregno da Antiga Roma, das provocações gratuitas e dos estigmas jogados contra os médicos, os compromissos vocacionais desses profissionais são sustentados com angústias, sofrimentos, depressões e reconhecidos em pesquisas de opinião pública.

No final do ano de 2016, em pesquisa do Instituto Datafolha, os médicos brasileiros continuaram no topo do ranking das classes profissionais com mais crédito ou de maior confiança. Por sua vez, com honrosas exceções, a classe à qual pertence o Ministro da Saúde – a dos políticos – ficou situada infelizmente no último lugar, como consequência de alianças político-partidárias feitas de modo argentário e vulneráveis às ações corporativas e predatórias do bem comum.

 

Palavra do Presidente publicada na edição nº 269 do Jornal Medicina. Acesse aqui a edição.

 
A arte de curar
Sex, 01 de Setembro de 2017 15:20

Antônio Marcio Junqueira Lisboa*


A maioria das sociedades apresenta pluralismos de sistemas e crenças, sem uma nítida separação entre eles, que se preocupam com a arte de curar. Alguns milenares, como as medicinas chinesa, indiana, egípcia, persa e grega; outros mais atuais, como alopatia, homeopatia, fitoterapia e naturopatia. Existem ainda modelos de cura de cunho popular, como o curandeirismo e os praticados por seitas religiosas.

As formas de curar mais antigas são as praticadas pelos curandeiros, cujo conhecimento deriva da sabedoria popular tradicional. Consideram as pessoas como uma unidade mente-corpo, focando em suas relações com o meio em que vivem e com as divindades. As cerimônias envolvem um grande relacionamento com os pacientes e são utilizadas pelos curandeiros para diminuir a ansiedade e o medo que cercam os processos mórbidos, liberando energias que serão canalizadas para ajudar a natureza em seu processo natural de cura. Dentro dessa categoria, atualmente estão a imposição de mãos e procedimentos utilizados por algumas igrejas e cultos, que exorcizam o demônio e solicitam o auxílio divino.

A medicina chinesa tradicional vem sendo divulgada cada vez mais em nosso país, e o número de centros que a pratica vem aumentando vertiginosamente, conservando seu sentido holístico, em que o paciente é visto em sua integralidade. Recomendam exercícios físicos e mentais (meditação e ioga) e medidas dietéticas para a promoção da saúde. A base da terapêutica está no uso de plantas medicinais, massagens e acupuntura, que apresentam bons resultados. A acupuntura, por exemplo, é utilizada largamente em tratamentos clínicos ou como anestésico nas cirurgias.

A medicina chinesa tradicional é eficiente e de baixo custo. Tive oportunidade de conhecê-la ao visitar a China, em 1976, a convite da Academia de Ciências de Pequim. Visitei comunidades onde pessoas com problemas de baixa complexidade eram atendidas pelos médicos denominados “pés-descalços”, que usavam basicamente a fitoterapia e produziam a maioria dos seus medicamentos. Tive ainda a oportunidade de visitar hospitais universitários em Cantão, Shangai e Pequim, onde assisti operações de grande porte, como cirurgias cardíacas e histerectomias com a utilização da acupuntura. Confesso que, como médico e professor, fiquei tão impressionado com o que vi na área da saúde e da educação, em 1976, que ousei prever que a China se tornaria, em breve, um dos países mais desenvolvidos do mundo. E minhas previsões se confirmaram.

A fitoterapia utiliza o efeito curativo das plantas e já é um tratamento com grande tradição popular.  Embora boa parte da academia médica ainda desconheça ou não aceite seu emprego, seu valor não pode ser negado. Quem ainda não receitou, ou usou, chá de camomila, erva doce, boldo, hortelã e tantos outros, com feitos surpreendentes? Quem ignora que um grande número de medicamentos alopáticos e homeopáticos tem princípios ativos retirados das plantas?

A homeopatia, cujo valor é até hoje negado por inúmeros médicos, foi reconhecida pela Associação Médica Brasileira como uma de suas especialidades. Isso aconteceu com razão, pois seu verdadeiro precursor foi Hipócrates, o pai da medicina, que em aproximadamente 500 a.C. foi o primeiro a enunciar a lei dos semelhantes: “A aplicação de semelhantes faz passar da doença à saúde”, base de todo tratamento homeopático. Tenho orgulho de ser o autor do parecer que levou a esse reconhecimento. A homeopatia se baseia na chamada “cura pelos semelhantes” e pela dinamização de substâncias de origem vegetal, mineral ou animal. Sua eficácia é incontestável, principalmente nos processos crônicos e nas alergias. A aceitação do conceito holístico das pessoas obriga o médico que a pratica a fazer uma anamnese detalhada, em que são levados em consideração aspectos físicos, psíquicos, emocionais, sociais, hábitos de vida e situações que agravam ou melhoram os sintomas. O grande risco da homeopatia, a meu ver, é o radicalismo de alguns de seus seguidores – o que felizmente vem diminuindo –, que tentam utilizá-la em condições de extrema gravidade, inclusive cirúrgicas. Atualmente, boa parte dos homeopatas prescreve alguns medicamentos alopáticos, como os antibióticos.

A alopatia é o método terapêutico mais utilizado na atualidade. Pouca gente sabe, mas o termo “alopatia” foi empregado pela primeira vez por Hahnemann, pai da homeopatia, para distinguir o método terapêutico que havia criado da medicina praticada à época. O modelo atual biomédico, ensinado nas escolas médicas e que advoga o uso dos medicamentos alopáticos, tem suas origens na concepção mecanicista de Descartes e Newton e peca por dividir o ser humano em corpo e mente, assim como por considerá-lo como uma máquina que permite que “suas peças” possam ser estudadas e cuidadas de forma independente. Perde-se, assim, o conceito holístico, ecológico e social da saúde. Embora sejam inegáveis os avanços conseguidos na assistência à saúde, principalmente os relacionados com a tecnologia, a população vem questionando cada vez mais esse modelo. Os descontentamentos são atribuídos a dificuldades no atendimento – filas intermináveis, espera para marcação de consulta, sobrecarga dos médicos que os obriga a reduzir o tempo da consulta, mas também por falhas ligadas ao próprio ensino médico, que não valoriza devidamente o relacionamento entre médico e paciente. Infelizmente, a medicina alopática praticada é de alto custo e coloca em plano secundário a promoção e a proteção da saúde.

Todos os métodos utilizados na arte de curar têm suas vantagens e desvantagens. Caberá ao médico indicar ou não algum tratamento e, posteriormente, avaliar o “risco do medicamento versus benefício para o paciente” na escolha do método e do medicamento a ser utilizado. A natureza é a maior mestra na arte de curar – natura medicatrix –, pois acaba com a maioria das doenças. Entretanto, as pessoas não aceitam bem quando dizemos que não há necessidade de medicamentos, ainda mais quando mandamos suspendê-los por estarem impedindo a cura.

A frustração é ainda maior quando a consulta é paga e o paciente recebe somente orientações, sem nenhuma receita. Muitos se sentem lesados por não receberem a folhinha com as prescrições. As pessoas se acostumam a receber algum remédio, ou a receita de um, sempre que vão ao médico, sendo que o médico o receita porque o paciente assim deseja e espera, e a pessoa toma o remédio porque o médico mandou. Esse círculo vicioso e a automedicação são os grandes responsáveis pelo uso abusivo de medicamentos. Já perdi inúmeros clientes por haver sido honesto, dizendo: “Não faça nada. Isso cura sozinho, se você não atrapalhar”. O medicamento é para o clínico o que o bisturi é para o cirurgião. Nenhum deles terá bons resultados se não conhecerem e gostarem das pessoas e da profissão que exercem. A confiança no médico é fundamental para o tratamento e ela nunca poderá ser subestimada.

 

* É pediatra, membro da Academia de Medicina de Brasília e da Sociedade Brasileira de Pediatria.

      

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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A má gestão da saúde pública
Qui, 10 de Agosto de 2017 16:56

Carlos Vital Tavares Corrêa Lima

 

Três recentes episódios de injustas acusações aos médicos brasileiros foram registrados pela mídia, com forte impacto no seio da classe e grande repercussão na sociedade, por terem como protagonista o ministro da Saúde, Ricardo Barros, engenheiro e deputado federal filiado ao Partido Progressista (PP).

O Ministro anunciou nos estados do Paraná, Acre e no Distrito Federal o controle por biometria nos postos de saúde da rede pública de todo o País na intenção de uma maior produtividade dos médicos. Cometeu um erro imperdoável em seus discursos ao dar destaque a uma frase polêmica: “vamos parar de fingir que pagamos os médicos e os médicos têm que parar de fingir que trabalham”.

Diante de críticas à inconsistência de seus discursos, transformou os jornalistas em bodes expiatórios, acusando-os de distorcer o sentido de sua frase, por colocá-la fora de contexto, esquecendo-se que a expressou por três vezes e que os seus termos assertivos são de interpretação filológica ou gramatical.

Maquiavel classificou os homens em três tipos: aqueles que conseguem compreender por si só; os que só conseguem entender os que os outros compreenderam; e aqueles que não conseguem compreender por si só e não conseguem entender o que os outros compreenderam. O Ministro não se enquadra nestas duas últimas categorias. Elabora as suas mensagens com plena compreensão do que transmitem.
Portanto, trata-se aqui de uma frase de efeito que desvia a atenção sobre a precariedade da saúde pública, onde falta tudo ou quase tudo e ocorre com frequência a designação aos médicos da representação não autorizada do Criador nas “Escolhas de Sofia” – as mesmas escolhas entre os náufragos daquele que ocupará o último lugar disponível no escaler da vida.

As mortes evitáveis e as sequelas irreversíveis de milhares de brasileiros, por falta de condições de trabalho ao médico, têm sido escondidas com a cumplicidade do silêncio ou de polêmicas impertinentes, que impedem a nítida visão da incompetência administrativa do Sistema Único de Saúde (SUS).

Na linha das explicações desprovidas de razão, com simples análise de números, o Ministro apresentou dados do Banco Mundial como alicerce para os seus argumentos de que o número de consultas por médico no Brasil é 1,5 vez menor do que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), olvidando-se que os dados foram retirados do exercício da medicina em condições ideais de trabalho.

Na maioria das Nações que integram a OCDE (Inglaterra, Portugal, França etc.), os médicos têm excelentes carreiras nacionais e os cargos da gestão de serviços e programas de saúde não são de livre provimento dos políticos de plantão. Por isso, não são utilizados para satisfação de interesses pessoais ou eleitorais, em detrimento da proficiência administrativa.

Em geral, no âmbito dos países membros da OCDE, os médicos têm o que falta em muitos postos de saúde brasileiros: cadeiras, macas, toalhas e pias para lavagem das mãos, banheiros para deficientes físicos, salas para esterilização de materiais e expurgo de lixo, equipamentos, medicamentos e insumos imprescindíveis aos atendimentos. Considerando essas carências, pode-se concluir pela maior produtividade dos médicos brasileiros.

Ainda, em meio aos conflitos gerados pelas gratuitas provocações aos médicos, tem sido divulgada por Ricardo Barros a economia de R$ 3,5 bilhões em sua gestão ministerial, sem mencionar que de uma dotação orçamentária de R$ 121 bilhões o Ministério da Saúde (MS), no ano passado, deixou de aplicar R$ 6 bilhões, dos quais R$ 2 bilhões destinavam-se aos investimentos e o restante ao custeio.

Os problemas do SUS são crônicos e não serão resolvidos com propostas casuísticas. As suas soluções exigem: política de saúde como política de Estado, competência gerencial, planos de cargos e salários em carreiras estruturadas e compartilhadas pelo Poder Executivo, recursos humanos valorizados, melhor orçamento, sistema de controle e avaliação rigoroso, descentralização regional, auditoria social independente e capacitada. A Reforma Tributária, entre outras relevâncias, tem papel preponderante nas adequações do SUS!

Na vigência da Carta Magna de 1988, a União concentrou em seus cofres a maior parte da carga tributária e reduziu os seus encargos. Os demais entes federativos (Estados e Municípios) estão mais onerados, empobrecidos, endividados e subservientes ao Planalto Central.

As caravanas de governadores, prefeitos, secretários estaduais e municipais de saúde à Esplanada dos Ministérios são notícias rotineiras. De pires na mão, as autoridades agradecem ínfimos percentuais do que deveriam receber por direito.
Assim, o País encontra-se com um Pacto Federativo utópico e mais vulnerável às alianças político-partidárias feitas de modo argentário e às ações corporativas predatórias do bem comum.

Na persistência desse cenário de violências, desvios do erário, humilhações e desassistência à saúde pública por omissão do Estado, a classe médica, mais uma vez, unida aos interesses da imensa maioria da população brasileira, que defende o SUS, voltou às ruas no dia 3 de agosto, em um movimento de protesto popular denominado “Fora Barros”. Na defesa da saúde, a causa pública mais essencial e reivindicada, de modo coerente ao exercício de cidadania, no mais elevado patamar da consciência, repudiando a inércia das autoridades sanitárias e o descaso com a dignidade humana.

Apesar das nossas relações sociais contemporâneas, que fazem lembrar as históricas narrativas do período de interregno da antiga Roma e dos estigmas jogados contra os médicos, os seus compromissos vocacionais, sustentados com angústias, sofrimentos e depressões, são afirmados pelo povo em pesquisas de opinião pública. No final do ano de 2016, em pesquisa do Instituto Datafolha, os médicos brasileiros continuaram no topo do ranking das classes profissionais com mais crédito ou de maior confiança perante a população. Por sua vez, com honrosas exceções, a classe à qual pertence o Ministro da Saúde, a dos políticos, ficou situada, infelizmente, no último lugar.

A voz do povo fala a verdade!

 

Palavra do Presidente publicada na edição nº 268 do Jornal Medicina. Acesse aqui a publicação.

 
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